Texturas do Ordinário mostra como a antropologia encontra na
filosofia uma companhia para a exploração da vida cotidiana. Com base em duas
décadas de trabalho etnográfico entre famílias de baixa renda na Índia, o livro
mostra como a noção de textura alinha a etnografia ao tom antropológico em
Wittgenstein e Cavell, assim como em textos literários. O livro mostra
diferentes rotas de retorno ao cotidiano conforme este é corroído não só por
eventos catastróficos, mas também pela violência reiterada e rotineira dentro
da própria vida cotidiana. Como alternativa à ética normativa, este livro
desenvolve a ética ordinária como atenção ao outro e como a capacidade que os
pequenos atos de cuidado têm de fazer face à terrível violência.
Texturas do Ordinário oferece um modelo de pensamento no
qual se mostra que os conceitos e a experiência são mutuamente vulneráveis. O livro
é um convite intelectualmente íntimo para o ordinário, aquilo que é o mais
simples e ao mesmo tempo o mais difícil de se perceber nas nossas vidas.
Não é fácil recontar algo. A partir dessa tensão, Veena Das
anuncia este livro que reúne ensaios reescritos, mas sempre inacabados, incapazes
de seguir em direção a um ponto de chegada. Seu pensamento acompanha os
movimentos incertos e elusivos da vida, seu objeto de estudo, como os passos do
caranguejo, na metáfora da autora. Em intenso diálogo com textos de Wittgenstein
e seu reaparecimento nos escritos de Stanley Cavell, ela traz o concreto para a
filosofia, revisitando questões de dor e violência há muito presentes em seu percurso
antropológico, com a defesa explícita de que apresentar a textura da vida ordinária
depende de uma atenção voltada aos detalhes. Vale-se de relações com pessoas, lugares
e textos, que resultam de suas leituras e da longa trajetória de trabalho de campo
em bairros de baixa renda em Delhi, com comunidades destituídas pela violência contra
os sikhs em áreas periféricas da cidade ou com os desalojados pela Partição da
Índia em 1947, situações e eventos descritos e analisados em livros anteriores.
Em reflexões tecidas pelas tramas de textos literários e acadêmicos, notas de campo,
memórias de encontros tanto no campo como entre colegas, ela incorpora também
sua experiência de vida, interrogando o lugar das palavras enunciadas, ou recolhidas,
por cada uma das vozes que escuta e às quais atribui o mesmo peso e interesse na
tessitura de suas ideias. O que está em jogo não é apenas o significado de uma palavra,
mas o que dá vida às palavras. Em sua tinta, os conceitos fazem sentido quando inscritos
em formas de vida concretas, reveladas nas práticas da vida cotidiana. Citando-a:
“eles são humildes, prosaicos e não magisterais”. O cotidiano, por sua vez, não
se limita ao espaço das rotinas e hábitos, mas configura um lugar de criação,
com potencial aniquilador, de onde emergem as dúvidas e incertezas nas relações
humanas, com os outros e consigo mesmo. No olho da antropóloga, o ordinário da
vida tem esse duplo, misterioso e estranho caráter.
Cynthia Sarti - Professora Titular de Antropologia na UniversidadeFederal de São Paulo (Unifesp)
VEENA DAS é professora da cadeira Krieger-Eisenhower de
Antropologia, professora de Humanidades da Johns Hopkins University e membro
fundador do Institute of Socio-Economic Research in Development and Democracy.
É autora de Vida e Palavras (2019) e Aflição (2023), também publicados pela
Editora Unifesp, entre outros livros.
Autor: | Gambarotto, Bruno |
Assunto: | Filosofia, Cultura, Antropologia |
Editora: | Unifesp |
Ano: | 2024 |
Acabamento: | Brochura |
Páginas: | 464 |
ISBN: | 9786556321875 |
Edição: | 1ª |
Formato: | 16x23 |
Peso: | 0,760 Kg |